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Receitas Outono-Inverno

Vai necessitar de chocolate, mel, musgo, romã e outras bagas silvestres em doses generosas. Não poupe no índigo ou noutras gradações de azul. Salteie com pelo, lã e cabedal e tempere a gosto. Ao seu gosto. Não deixe de acompanhar com preto, cinza, branco ou um pouco de mostarda. Propostas calóricas e reconfortantes, imbatíveis para fazer frente aos rigores das estações frias e às longas noites que nos esperam. Seja criativo e bom proveito!

O melhor do Outono

O melhor do Outono, apetece dizê-lo, é tudo. Tudo nele é charme, nostalgia, ponderação, aconchego, vitalidade, impetuosidade, arrumação e limpeza. Qualquer fã da arquitetura da Natureza e da engenharia dos elementos entende e aprecia a magia do Outono e do seu vizinho Inverno, as suas razões e cabeça fria, os seus moods e urgências e reconhece conforto nos tons de que se vestem, no despojamento de que se alimentam e naquilo que a sua austera beleza proporciona aos sentidos, ao elemento humano. É hora de recolhimento, de dar descanso às vaidades primaveris e aos excessos estivais, de organizar a casa e a alma, dar um jeito às florestas e outro à vida. Olhar para dentro é aquilo que a Natureza faz por estes dias. Cuida das árvores, podando-lhes as folhas para que os ventos e a intempérie não enfunem nas suas copas estremecendo raízes. Varre o lixo das florestas com seus sopros vigorosos, arrefece a água dos riachos, reforça o pelo aos animais, rega aqui e acolá, ordena descanso e a merecida sesta depois das abrasivas aventuras de verão. Impõe ordem, autoriza resguardo e incentiva a contemplação.

São estações de renovação, de mudança, progressistas, que eliminam do caminho tudo aquilo que não faz falta, sem medos ou contemplações. Tudo é cíclico e a próxima primavera tratará de repor outra verdade, mais consentânea com o clima de então. Para já, minimalizam-se os exteriores, dispensam-se os acessórios e o mundo concentra-se a cuidar do essencial. Bem observado, de entre todas, o Outono é a estação mais enérgica e menos caprichosa, não obstante a dança de folhas que lança sobre as cidades, e o festival de cores com que presenteia as florestas, mimando-as com uma brutal paleta de tons que lhes permite despedirem-se em grande das suas vestes da estação anterior.

Enquanto lá fora a metade norte do planeta entra neste meio modo de hibernação e sossego, destralhando-se do supérfluo, libertando-se de excessos e ganhando forças para fazer frente ao Inverno, em casa, olha-se para dentro. Retomam-se os livros e o cacau quente, retiram-se mantas dos armários, procuram-se as lãs e os chinelos de carneira, e amornam-se os ambientes com o fogo da lareira ou apenas das reconfortantes velas de luz dourada, que mantêm vivo um pouco do sol de verão. O corpo pede conforto e ele procura-se no interior.

Seduções outonais

Longe das vibrantes cores que a primavera sugere, ou dos áridos tons de areia do verão, o Outono, mais do que o primo Inverno, traz uma paleta de cores intensa, inebriante, que conhecemos de cor e salteado e que apetece importar do exterior para as paredes de casa. Sem grandes novidades, as cores deste Outono rondam todas as tonalidades de que se pintam as folhas antes de dizer Adeus. Tons quentes e aconchegantes, que vão do amarelo vivo ao bordeaux, e que designers e estilistas replicam nas suas tendências sazonais, nos salões de decoração ou nas passerelles. Não é falta de imaginação, é apenas reconhecer que nisto de tendências, a grande Mãe Natureza sabe tudo melhor do que ninguém. Assim, prepare-se para uma receita infalível, 100% natural, calórica, mas inegavelmente charmosa e apetecível. Aqueça o chocolate, com qualquer intensidade de tom que mais o seduza e que pode ir do café com leite ao chocolate negro e profundo, passando pelo tom da canela.

Adoce com tons de mel, âmbar e mostarda, ou mesmo de amarelo e laranja mais vitaminados, se gostar de contrastes. Cores e aromas que se colam à pintura das paredes, aos têxteis, ao mobiliário e aos acessórios. Reserve. Misture-os a gosto com o incontornável verde, na variante verde-seco ou musgo, para que se funda naturalmente, ou em versões mais frescas e atrevidas, como o esmeralda, para obter umas notas mais vibrantes. O bege, branco ou preto como pano de fundo são sugestões deste ano e que vão bem com a paisagem que se reinventa lá fora. Pode polvilhar de cinzento, que teima ainda em ser um dos tons neutros do momento, muito embora não seja tão reinante como em anos anteriores. Mas é sempre uma aposta segura e elegante.

Tons maioritariamente adocicados, com os quais pode brincar com lúdicos degradés ou, de forma mais assertiva, com misturas de padrões. Dentro da harmonia dos mesmos tons, pode até unir retas geometrias a exuberantes padrões florais e botânicos ou exóticos animal prints. Sim, a decoração deve ser atrevida e também pode ser divertida, desde que reflita quem com ela convive. Todos sabemos que a melhor decoração é aquela que nos reflete e interpreta.

Claro que há novidades

Neste final de 2020 – um ano pleno de excentricidades e bizarro por definição –, aos clássicos da estação, juntam-se reforços de peso. Ainda que menos óbvios, eles encaixam perfeitamente na harmonia cromática das estações frias e sublinham o conforto que se exige numa altura em que as temperaturas baixam, os dias encolhem e as noites se espreguiçam por mais tempo. São os tons de bagas silvestres, entre o rosa-velho e tons de cereja mais vivos e avermelhados, que tanto se colam à cor da casca da romã, como às suas bagas cristalinas. São ainda os tons dos bagos de uva tinta que, por esta altura, se pisam nos lagares, e o rubi dos vinhos que já se adivinham.

Do chão ao céu, vai um mero subir de olhos e é no azul intenso, escuro e profundo que recai outra das grandes apostas desta estação fria. Do navy ao índigo, com extravagâncias que roçam o roxo, o azul entra de rompante na decoração de interiores. Ele cai bem sobre o sedutor veludo, mas é opção em qualquer elemento decorativo, seja como apontamento de cor, seja como opção estética predominante. Na verdade, zonas ou divisões exclusivamente monocromáticas são moda nesta estação, uma opção que promete durar mesmo longe do omnipresente branco ou do cinzento.

O estilo nipónico, do mais gráfico e mínimalista, ao enigmático e sábio wabi-sabi é uma tendência em alta, a par do charmoso e muito europeu rétro-chic, em versões jazzísticas, onde peças de design com assinatura rimam com ‘velharias’ ou atmosferas mais boémias e o brilho dos instrumentos de sopro salpica de brilho a decoração. O pelo e o cabedal, pela mão de estéticas nórdicas, estilos natura ou com pendor rústico são sempre apetecíveis logo que o frio assenta arraiais, sendo um aporte de conforto inigualável e outra faceta marcante neste outono. Lã pura, flanela, feltro, veludo e tecidos tricotados manualmente dão vida aos têxteis de inverno e tornam qualquer ambiente mais quente e acolhedor.

Latão e madeira em alta

O latão e o cobre, a par da pedra mármore rica em padrões orgânicos ou cerâmicas que os replicam são materiais que entram pela porta grande. Não apenas em detalhes de construção ou apontamentos decorativos, como em peças estruturais: colunas, canalizações expostas, pisos, bancadas e painéis de parede. Materiais resistentes e duradouros, com as suas mutações temporais que dialogam com a nova arquitetura e estéticas alternativas, mais orientadas para zonas não minimalistas e que valorizam uma identidade, um projeto com assinatura personalizada, capaz de contar a história de uma vida e não apenas de um arquiteto ou designer de interiores.

De entre os protagonistas, surge, sem novidades ou até grande alternativa, a nobre e eterna madeira, sem a qual não existiria a menor hipótese de decoração de interiores. Presente em pavimentos, paredes, mobiliário, peças decorativas… a madeira é estrutural, apetecível, quente, acolhedora, orgânica e a mais versátil das matérias. Molda-se a todo e qualquer estilo, tem uma infinita paleta de cores e de possíveis texturas, permite restauros, reabilitações e cores e é dos materiais mais orgânicos e queridos ao toque e à alma. Em qualquer momento, sejam quais forem as tendências e apetites do momento, a madeira na decoração, como dizem os ingleses, goes without saying, que é como quem diz, de tão óbvia e necessária, incontornável e desejada, nem deveria ser referida como tendência, já que, quase por definição, a madeira é permanência.

Numa época de valorização dos elementos e materiais naturais, das texturas orgânicas e das formas ergonómicas, muitos outros se juntam à madeira, como as fibras 100% vegetais, as plantas, incluindo secas, o barro e a terracota, fina ou grosseiramente trabalhados, a pedra e o cabedal. Na verdade, são elementos de constância, fiáveis e duradouros que, quando bem eleitos, duram uma vida sem necessidade de substituição ou, muitas vezes, sequer de restauro.

Calce as pantufas e dê um jeito… ao seu jeito

Não é necessário mudar a casa, nem voltar a pintar tudo de novo, vá tranquilizando o ‘querido’. Porém, uma pequena mudança, a rimar com tudo o que muda lá fora, um elemento novo, uma cor inesperada podem fazer a diferença e parecer que tudo mudou também e que é outono cá dentro. Mude a cor das velas, troque uma cortina, pinte uma parede ou um quarto, substitua as capas dos edredões, aproveite agora para substituir aquele puído e velhinho tapete, ou apenas juntar-lhe um outro, mande forrar o cadeirão de leitura, adicione-lhe uma almofada confortável e vá introduzindo aromas de outono na casa.

Não poupe na lã, no veludo, no linho natural, na cachemira e nos têxteis em geral, pois deles e das suas texturas se recebem códigos expressos ou encriptados de conforto e aconchego. Calce as pantufas, estude bem a sua casa, perceba do que precisa e ceda-lhe um outro capricho, do qual só você beneficiará. Com os dias mais curtos, o teletrabalho como regra, ou quase, redecore a sua zona de trabalho e tenha particular atenção ao plano de luzes.

Aposte na iluminação, a sua vista e concentração agradecerão. Que ela seja forte e bem direcionada, sem projeção de sombras ou demasiadas flutuações nas zonas de trabalho – cozinha e escritório – e de leitura, mas que seja obrigatoriamente sedutora e romântica, principalmente no quarto e na sala. Invista em candeeiros de mesa ou de pé em todo o lado, aqueles que melhor permitem recriar pequenos ambientes em recantos de uma divisão, ou redefinir a atmosfera de toda uma estância, de toda a casa. Servem ainda de complemento e reforço às luzes de teto.

Parte significativa do conforto – na Light It Be sabemo-lo bem – está no projeto de iluminação, no jogo de luzes, na calidez e intensidade das mesmas, no modo como estão direcionadas e na forma como interferem com os sentidos. Alie focos de luz baixos, sobre mesas e bancadas. Servem para reinventar a perspetiva e a própria noção de espaço, valorizar uma peça ou zona e permitem transformar um ambiente da noite para o dia, quando empregues autonomamente. São eles que trazem o romance, o suspense e a aventura. Em conjunto com luzes de teto mais amplas, os candeeiros de mesa e de pé são complementos incontornáveis, que permitem ampliar a área e retirar ou somar sombra aos recantos.

Mais do que qualquer outro elemento, a luz é a grande responsável pelo conforto, na medida exata em que dela dependem as sensações e as emoções que se retiram daquilo que é percecionado. Luzes quentes e baixas são apaixonantes e reconfortantes e devem comandar os olhos na decoração de interiores. A elas se devem entregar as coordenadas do conforto. Luzes altas e frias são apenas pragmáticas, devem guardar-se para zonas que exigem ações de precisão, como bancadas de cozinha ou ateliers de trabalho.

Agora, calce as pantufas e adapte as tendências. Pegue nos tons com que mais se identifica e dê um jeito à casa e ao seu Outono/Inverno, mas ao seu jeito, claro!

Fotografias – Light It Be e Pinterest

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