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Como criar o estilo Japandi – 9 passos mágicos

Japandi é um apelativo e híbrido destino estético, situado algures entre as paragens escandinavas e as coordenadas do império do sol nascente. Não precisa de passaporte, mas vai necessitar de apurar os sentidos e abrir espaço à simplicidade e ao conforto. Vem connosco nesta viagem? O comboio parte em 3, 2…1

Primeira paragem

Japandi é uma estética de valorização da simplicidade e do conforto na decoração de interiores, na própria arquitetura e até na conceção paisagística, que integra e valoriza o estilo japonês e o escandinavo a uma só vez. Uma feliz aglutinação de conceitos que se condensa neste neologismo. Por bizarro que pareça, é mais aquilo que umbilicalmente une estas duas tendências tão em voga do que aquilo que as separa.

Mais de um século de influência

Ainda que o termo Japandi apenas recentemente tenha entrado de rompante na decoração de interiores, a verdade é que ambas as culturas, japonesa e dinamarquesa – ou mais amplamente a escandinava –, há muito que se procuram em busca de inspiração. Uma relação de influência com mais de um século e que coloca os dinamarqueses como pioneiros dessa nova procura de inspiração em terras nipónicas. Ainda que absolutamente distintas, tanto a estética escandinava quanto a japonesa partilham conceitos básicos, sendo o apreço pelos materiais naturais e pelo trabalho artesanal os mais notórios, a par do elogio da simplicidade minimalista e do conforto que ambas buscam incansavelmente.

Wabi-Sabi e Hygge

Dois termos moldam inequivocamente o espírito japonês e a alma escandinava. Enquanto Wabi-Sabi define a delicadeza zen da espiritualidade nipónica, Hygge – que em bom português se pronuncia huga – explica o modo de vida dos países da Europa do Norte, dominados maioritariamente pelo frio e pelas longas noites nórdicas.

O apreço pela imperfeição do que é feito manual e artesanalmente, a valorização da transitoriedade de todas as coisas, o carinho pelos ‘defeitos’ e particularidades que resultam da mão que molda, do tempo e do uso, a inclusão do reparo na vida dos objetos que se quebram ou sofrem danos, o elogio da idade das coisas, o apreço pela forma como o tempo se estampa nos objetos, no Homem e na vida. Assim se define a estética Wabi-Sabi bem como toda a filosofia que ela encerra e acarinha. Neste universo, não há defeitos, apenas particularidades, não existe velho, apenas coisas que de tão úteis se mantêm no ativo e com tudo isto se economiza na ânsia de substituir coisas ‘velhas’ ou ‘gastas’ por outras mais novas ou artificialmente perfeitas. A perfeição Wabi-Sabi resulta da imperfeição, pelo que tudo é belo e aprazível, depende apenas do olhar que lançamos sobre as coisas, sobre nós, o universo e a vida. Uma filosofia de apreço e valorização do que é artesanal, da mão que cria e do tempo que passa por nós. Uma filosofia que não contempla o consumo nem o excesso, apenas o necessário, o básico, e desde que o necessário e o básico sejam de boa origem, feitos de materiais duradouros e cuidados para durar, não há necessidade de substituições. Uma longevidade que resulta de comedimento e da capacidade de amar o belo e o simples em cada elemento, em cada coisa, em casa pedaço de história vivida e onde a idade ou o desgaste são elementos promotores de beleza que valorizam cada peça.

Igualmente difícil de abarcar é o conceito Hygge, que mais do que uma estética se assume como uma filosofia de vida, um modo de estar e interagir com o meio. Uma forma contemplativa, quase introspetiva de valorização do conforto essencial em detrimento do acessório ou meramente decorativo. Num país de dias curtos e longas noites de frio, o aconchego do lar, daquele espaço íntimo, é superlativamente priorizado. Ao hygge – que ainda que intraduzível se cola ao conceito de aconchego prazenteiro – devem os dinamarqueses o rótulo de país mais feliz do mundo. Uma felicidade que resulta de contentamento com a vida e se traduz em bem-estar físico e mental, mesmo em paragens com pouca luz solar, onde o inverno e a noite não parecem ter fim. Além de uma conceção estética visível na decoração de interiores, o hygge contempla espaços mentais de introspeção e tempo para apreciar os pequenos prazeres da vida: o calor de uma lareira, o sabor de uma bebida quente e a companhia de um livro ou do reconfortante núcleo de amigos. Um conceito que valoriza o silêncio, o slow-living, o crepitar do fogo, a comida caseira e de conforto, o toque dos materiais naturais, como a pele e a lã, os sabores tradicionais do mel e da canela e que não é mais do que uma ode aos sentidos, pois são eles, os sentidos que nos transportam para lugares seguros, memórias afetivas e promotoras de bem-estar.

Assim, tanto para um como para outro conceito, tanto no Japão como na Escandinávia, o importante é a beleza singular de sensações e objetos a que estamos afetivamente ligados e que espoletam no nosso íntimo satisfação e felicidade. Falamos, talvez, de estados de espírito que acabam por ter uma materialização física em objetos e espaços concretos. Mas nem todos os espaços e nem todos os objetos, já que há um princípio despojado, devoto do essencial em detrimento do acessório. Falamos de texturas e cheiros naturais, de madeiras trabalhadas à mão, de formas simples e depuradas, de fibras naturais que trazem ainda agarradas a si os cheiros primários da natureza, como a madeira, o couro, a cerâmica ou a lã. Falamos de objetos únicos, que resultaram de tempo de execução e, mais do que isso, de dedicação e paixão. Falamos da valorização do artesanal, do único, do pessoal. Caseiro é uma palavra que ocorre de imediato em ambas as filosofias. Só em casa reconhecemos pedaços da nossa história familiar e pessoal, sabendo exatamente o valor e origem de cada coisa, de cada cheiro. Uma casa vivida e que estimula a memória como um velho álbum de família, onde só nós conseguimos nomear cada rosto, cada lugar, cada sensação. Em ambos os conceitos, Wabi-Sabi e Hygge, tudo reside nos cinco sentidos e tanto sentido que isso faz. Também o tempo e a luz se reinterpretam nesta viagem dos sentidos. Luz natural, sim, sempre, mas moldada às necessidades de cada tarefa. Nem mais nem menos. Já o tempo quer-se rústico, lento e permeável à possibilidade de o saborearmos sem correrias que anulem a sua passagem.

Ambos são estéticas de respeito. Respeito próprio e pela Natureza, seja a selvagem, a dos outros ou a dos próprios objetos.

Minimalismo, harmonia, bem-estar e… amabilidade

Japandi resume e aglutina em si todos estes conceitos num glossário promotor de felicidade e aconchego, de lenta sabedoria e calorosa aceitação da vida e das suas contingências, incluindo geolocalizações menos amenas e entornos mais agrestes. Na decoração de interiores, tudo isto resulta em espaços minimalistas, atentos ao necessário e ao duradouro, em harmonia espacial cromática e de matérias-primas, onde o natural tem exclusiva primazia, e em bem-estar. Obter esse bem-estar implica valorizar os sentidos e os hábitos dos habitantes ao invés da imposição de uma estética – ainda que bonita –, mas estéril na medida em que não traduz a vida de quem habita, os seus gostos, as suas necessidades e a sua história. Por fim, são estéticas que se cumprem na amabilidade para connosco próprios, os outros, a Natureza e tudo aquilo que nos rodeia, incluindo objetos inanimados com os quais nos relacionamos. Uma visão holística, mais consentânea com estilos de vida íntegros e inclusivos, não poluentes e de consumo consciente, onde o Homem é visto como apenas mais um elemento, a quem cabe a responsabilidade de zelar não apenas pelo seu bem-estar, como bem bem-estar comunitário e ambiental. Todos somos parte do todo e esse é um pilar a não esquecer.

Japandi, como chegar lá?

O estilo Japandi orienta-se em torno de princípios básicos que se traduzem, na sua essência, na busca de autenticidade, de modos de vida que descartem consumos desnecessários e numa decoração duradoura, resistente e afetiva.

1 – Minimalismo

O estilo Japandi é apologista do minimalismo, o que se traduz em áreas desimpedidas, com amplas zonas de passagem fluidas, facilitadoras da circulação e da transição entre áreas de diferentes vocações. Um exercício que se estende à eleição do mobiliário, ao qual se exige que seja funcional, resistente e versátil e se limite ao necessário, sem acumulação de demasiados elementos decorativos. Todavia, ao invés do minimalismo puro, quase acético e impessoal, o Japandi necessita de harmonia, de identidade, calor humano, tranquilidade e conforto, pelo que este minimalismo é quente e acolhedor e isso depende quase em exclusivo da simplicidade e dos materiais nobres que privilegia: madeira, cerâmica, pedra, fibras naturais, cabedal, ferro ou pelo natural.

2 – Linhas depuradas

Keep it simple. Simples e elegante. Mobiliário de linhas discretas, sob o primado de uma delicada e ergonómica geometria – de ângulo reto ou arredondado – são a base do Japandi. Poucas peças, mas peças funcionais, resistentes, e absolutamente essenciais, capazes de arrumar toda uma vida de forma harmoniosa e espartana e capazes mesmo de durar uma vida inteira. Mobiliário convidativo, que promova o conforto sem distrações de qualquer ordem. Esta simplicidade propicia a harmonia e a serenidade, próprias do espírito Japandi, que aspira ao bem-estar e à tranquilidade, sem os quais dificilmente se obtém um lar.

3 – Madeira e outras matérias-primas naturais

Acima de tudo, é o primado da madeira, com todas as suas diferentes texturas, tonalidades e possibilidades. Do chão ao teto, do mobiliário aos acessórios, a madeira é rainha no estilo Japandi, com um sublinhado particular para os painéis de madeira ripada, bem do agrado nipónico. Fibras naturais, de origem vegetal ou animal, tecidas manualmente, cerâmicas artesanais e até toscas, têxteis confortáveis, pelo animal, cestaria, cabedal e ainda mais madeira. Nesta busca por autenticidade, durabilidade e harmonia as matérias-primas são de primordial importância, pois só a qualidade e a ‘vida’ que habita as matérias naturais permite o conforto e o aconchego necessários à aproximação de modos de vida mais significativos e sustentáveis, mais resistentes ao tempo e às modas.

4 – Tons natura

Cores neutras, sóbrias e apaziguantes. A desejada harmonia conjuga-se com uma paleta de cores naturais, próprias das matérias-primas empregues, as quais respeita e que resultam no perfeito encadeado entre elementos. Os tingimentos, quando os há, são naturais e recorrem a métodos ancestrais não poluentes, já que a vida do Homem não se sobrepõe à do planeta nem coloca em perigo os ecossistemas, nem qualquer tipo de existência, animal ou vegetal. Tons tabaco, tons terra, cinzas, branco e preto são o elemento neutro em prol da harmonização do todo.

5 – Iluminação

Na construção do conforto, do bem-estar e de atmosferas promotoras de bem-estar e paz interior, nenhum outro elemento é tão vital quanto a luz e ela é o bem mais precioso do Japandi, tal como o é para cada um dos estilos que este estilo reúne. Ela é moldada com arte e engenho, como barro na roda do oleiro. Ela é pensada com delicadezas de cirurgião para cada canto da casa. Luzes indiretas, candeeiros de mesa e de chão, velas e luz natural conjugam-se sabiamente a fim de criar ambientes cálidos e adequados a cada tarefa ou com vista a determinado estado de espírito. Linho, papel, algodão, madeira, ferro, seda natural e fibras vegetais são as eleitas quase em exclusivo. Pelo enorme papel que desempenha, neste estilo e numa casa, a iluminação cola-se a lanternas, às incontornáveis e cálidas velas e a candeeiros esculturais, principalmente de madeira e desejavelmente artesanais, onde ainda seja possível perceber a árvores que lhes deu origem, tal como acontece com os candeeiros Light It Be, que respira ainda floresta. Uma comunhão com a natureza que este estilo privilegia e venera.

6 – Natureza

O eterno elogio à Natureza e ao meio ambiente é levada para o interior da casa da forma mais elementar, pontuando a decoração com plantas, ou criando um recanto exclusivamente dedicado a elas. As plantas podem coexistir na sua versão seca, muito do agrado do Wabi-Sabi, para o qual tudo é belo e admirável.

7 – Artesanato

Decoração autêntica, de autor, resultante do trabalho manual e da dedicação artesanal, objetos feitos de materiais duradouros, talhados, moldados pelas mãos inspirada e inspiradora dos artesãos são a alma do Japandi. São bem-vindas peças antigas, móveis herdados ou recuperados, onde se percebe a mão oficinal ou a história familiar e se presta homenagem a irregularidades ou ‘imperfeições’. O artesanal possibilita a identidade, é revelador de unicidade e com ele é possível criar laços afetivos. Estar rodeado de objetos desta natureza, nascidos e criados na singularidade irrepetível do que é feito à mão, é gerador de bem-estar, harmonia e permite ambientes com identidade.

8 – Arrumação

Tal como no Wabi-Sabi ou no Hygge, ou em qualquer outro estilo que premeie o básico e a simplicidade, a arrumação é um pilar estrutural. Tudo encontra lugar num lugar onde há espaço para tudo. Basicamente porque o tudo nunca é em demasia e presta vassalagem ao essencial. Ordem, limpeza, desobstrução espacial e harmonia visual são imprescindíveis no Japandi, onde a tranquilidade interior não coabita com poluição visual, sonora, ou emocional nem com a toxicidade de consumos absurdos.

9 – Rés ao chão

Manter o horizonte ao nível dos olhos ou abaixo dele é outro traço visível no estilo Japandi, que mantém tudo no plano do tangível, à mão de semear, sempre prestável e exequível, sem barreiras. Mobiliário baixo mantém as paredes libertas e permite pontos de fuga visuais, tornando ainda as áreas mais amplas e os ambientes menos poluídos com informação. Uma forma ainda de atribuir mais valor e significado à mobília e aos elementos decorativos, ou estruturais, como painéis de madeira, tetos com vigas expostas ou apenas tons de parede apaziguadores, adornados com parcimónia e decoro com algumas telas ou peças de arte.

Fotografias – Light It Be e Pinterest

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