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Biofilia, sim, pf!

Biofilia – literalmente amor à vida e a todas as suas expressões – designa no design e na arquitetura modelos de pensar e conceber os espaços de forma a permitir restabelecer a conexão inata do elemento humano com a Natureza. Uma relação ancestral e básica que o sobredimensionado crescimento urbano tem vindo a comprometer, com reflexos nefastos ao nível do bem-estar físico e emocional e da qualidade de vida. O termo não é novo, mas ganhou tração nos últimos anos, e um impulso ainda mais notório e urgente em época pandémica, na qual somos forçados a mantermo-nos em casa, em regime de clausura e teletrabalho, com nulo contacto com os espaços exteriores. Na verdade, virar a construção para o exterior é humanizar a habitação.

Em plena floresta

Fotossíntese humana

O conceito traduz-se na conceção de casas – e até de cidades – que não apenas não comprometam a relação com o exterior arborizado, como promovam essa ligação, estreitando barreiras e permitindo que o interior saia à rua e a rua entre em casa. O mesmo é dizer que a biofilia é a capacidade de fornecer ao ser humano a possibilidade de habitar espaços que permitam diária e permanentemente o seu tempo de ‘fotossíntese’. A era Covid-19 forçou-nos a repensar a necessidade de espaços interiores exteriores e a valorizar varandas, terraços ou meras janelas de grande vão, pelas quais se experimenta a rua lá fora e nos conectamos com os outros e o meio ambiente. Jardins verticais, hortas caseiras, vasos aromáticos, plantas espalhadas pela casa e todo o tipo de pontes ‘verdes’ não são apenas uma tendência, mas uma necessidade humana.

Aromas mediterrânicos

Precisamos de verde

O Homem resulta de uma constante resposta de adaptação ao meio ambiente, a qual determinou a quase totalidade da nossa história da Terra. No decurso desta jornada evolutiva, apenas as gerações mais recentes se viram confinadas as novas selvas de betão. No nosso ADN, no entanto, mantém-se como fundamental o cordão umbilical com a Natureza, com o elemento florestal, com a paisagem selvagem, geneticamente associados ao nosso bem-estar físico, emocional, espiritual e mental. Não se trata de querer uma arquitetura generalista ou de interiores mais verde e bioinclusiva, mas de dela necessitarmos para sermos mais felizes e mais capazes. Uma demanda imperativa numa altura em que passamos 90% do tempo em espaços interiores ou urbanizados, isentos desse precioso contacto com a natureza.

City mood

A biofilia chama a si a responsabilidade de reinventar casas, cidades e fomentar comunidades onde o Homem é entendido enquanto apenas um dos elementos biológicos a ser tido em conta. Assim, as zonas habitadas devem ser aceites enquanto elementos de um ecossistema mais vasto com o qual se deve manter respeitosa e profusamente conectada e dar espaço ao relacionamento integrado de diferentes tipos de ecossistemas.

Curto e grosso, não basta ter uma planta na sala ou viver num condomínio fechado com um luxuriante jardim privado. Há toda uma filosofia por detrás que visa o bem comum e não apenas de um punhado de privilegiados. Porque a biofilia só resulta se for uma experiência reforçada diariamente e vivenciado por todos. Uma filosofia que pode ser chave para o sucesso das necessárias formas de viver e de estar, com vista a corrigir as drásticas alterações climáticas que começam a comprometer a nossa sobrevivência e a do próprio planeta, tal como o conhecemos, ou antes, como o conhecíamos.

A Casa da Cascata por Frank Lloyd Wright

A Casa da Cascata

A mítica Casa da Cascata, ou Casa Kaufmann – na Pensilvânia, Estados Unidos da América –, do celebrado arquiteto Frank Lloyd Wright, é o arquétipo deste conceito. Toda a conceção e edificação da casa se moldou aos elementos existentes, à topografia e neles se camuflou como apenas mais um dos presentes naquele ecossistema, incorporando inclusivamente um riacho e uma cascata no seu interior. Sem interferências, ou com intervenção mínima no bosque em que decidiu implantar-se, com raízes na água e na rocha, como qualquer espécie autóctone, a casa girou, moldou-se a adaptou-se ao que já lá estava, sem se impor, sem derrubar, sem ferir. Servindo-se do existente para acrescentar valor e criar um espaço de harmonia total entre humano e selvagem. Uma utopia difícil de replicar no normal ordenamento urbano, mas que deve servir de exemplo de boas práticas.

Na arquitetura moderna, o conceito de biofilia traduz-se ainda em telhados ajardinados, jardins verticais, fachadas ‘verdes’, claraboias, paredes de vidro, salas abertas ao exterior, janelas de vão total, varandas e terraços arborizados e num design que valoriza a relação com o exterior, em vez de isolar o elemento humano em densas paredes de betão com meras ‘escotilhas’ para a rua.

Estilo nipónico

Contributo individual – Comecemos por partes

Na decoração de interiores, mesmo quem não tenha uma casa que privilegie o contacto com o exterior, sem jardim, pátio, terraço ou varanda onde incluir elementos vegetais, pode contribuir para o seu bem-estar adotando uma versão caseira e rudimentar da biofilia. Pequenos nadas capazes de promover a saúde e o bem-estar. Manter os cortinados e janelas, abertas e aproveitar cada oportunidade para permitir que o sol e a luz natural entrem já é positivo e um aliado de enorme valor na sensação de bem-estar. Acrescente plantas no interior e encha a varanda de verde. Pode ser pequena, mas há soluções e espécies de plantas que permitem ter um pequeno jardim em espaços mínimos. Floreiras de pendurar na parede ou de encaixar no corrimão da varanda ou janela, trepadeiras e catos são opções capazes de contribuir para o equilíbrio emocional dos habitantes e ainda de enorme valor decorativo. Não se desculpe com a falta de espaço.

Minimal

A Natureza faz-nos falta

Obtida a parcela de verde desejável ou possível atente na importância de outros elementos que direta e indiretamente trazem a Natureza para o interior. Materiais naturais como madeira, pedra, bambo e cerâmica tornam as casas mais orgânicas e em sintonia com os elementos exteriores. Tons terra e tonalidades cruas, padrões botânicos e jogos cromáticos que repliquem características próprias dos vegetais são finalizações que contribuem para essa extensão da floresta no interior da casa.

Provençal

Arrisque uma parede verde, com uma trepadeira ou um verdadeiro jardim vertical. Pode ser na casa de banho, onde a humidade contribuirá para o êxito do projeto. Rasgue uma janela a tida a altura do pé direito e torne seu o jardim da rua ou o parque da cidade. Faça outro tanto no sótão e permita-se assistir ao nascer e fim do dia de forma natural. O que poupará em eletricidade esbanjará em sensações positivas de felicidade e otimismo. Crie uma fileira de vasos rente a uma parede e parecerá que, afinal, sempre tem um jardim interior. Invente e adapte pequenas soluções ao seu espaço e estilo, tendo em mente que o elemento vegetal é coadjuvante de saúde física e mental e de bem-estar. Cuidar de seres vivos também ruma nesse mesmo sentido.

Rodeie-se de madeira, fibras naturais, palhinhas e verde. Não se esqueça de adaptar o projeto de iluminação, para que mesmo à noite, privilegie esse contacto com a Natureza. Melhor ainda se os próprios candeeiros já forem filhos da floresta, como os nossos Light It Be. Sempre que não poder ir à rua, terá sempre a sensação de que a rua chega à sua casa. Arrisque e abra a mente, o espírito e as janelas ao mundo lá fora. Vale muito a pena!

Atmosfera tropical

Fotografias – Light It Be e Pinterest

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