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Design Sensorial – Um festim em todos os sentidos

Ver, sentir, cheirar… faz sentido

Design sensorial é todo aquele cujas criações visam estimular os sentidos. São objetos e espaços, ou o somatório destes em ambientes criteriosamente concebidos, geradores de um qualquer efeito no sistema nervoso central humano. Pode ser um aroma, que suscita memórias ou cria novas, uma textura que acaricia a pele e se tateia mesmo se não lhe tocarmos, um padrão, ou a mistura de vários, que entusiasma e diverte a visão e inspira a imaginação, um som que acalma ou faz vibrar de emoção, uma cor ou forma apelativas. Pode mesmo relacionar-se com a temperatura dos materiais ao serem manuseados. Design sensorial foi feito para ser tocado, vivido e experienciado porque ele é vida. A sua aspiração é criar perceções sensoriais, conectar através de emoções que acionam os sentidos, todos eles, e tornar toda e qualquer experiência mais agradável e satisfatória. Design sensorial avalia a forma como percecionamos o nosso entorno, como nos relacionamos com os objetos e os espaços, como os usamos e o que sentimos através dessa experiência, ou como nos poderíamos sentir melhor através dela. O design sensorial observa as rotinas diárias para alterar, melhorar ou ‘adocicar’ a forma como nos sentimos, seja em casa ou num transporte público. A qualidade do ar, a temperatura de cor, a harmonia das formas, a iluminação, um ruído que se elimina ou se transforma em música, tudo é ponderado no processo de criação ou recriação.

Reconectar

No fundo, é voltar a olhar a Natureza, os seus padrões e texturas, as suas formas e aromas, a sua harmonia e organicidade e aproximar as criações humanas de toda essa inteligência sensitiva. Limam-se arestas, arredondam-se contornos, respeitam-se irregularidades. É retirar do planeta agressões sensoriais, quase todas elas resultantes do artificial fabrico de todos os nossos artefactos. É reduzir a frieza do plástico, é respeitar ergonomias, diminuir a poluição sonora, refrescar as ideias e o planeta com mais verde, e criar como se pela primeira vez nos sentássemos para pensar como qualquer coisa, seja ela qual for, deveria ser feita, ou já deveria estar a ser feita, esquecendo como sempre a fizemos até agora. Há designers que o fazem instintivamente, por via da sua forte conexão com a Natureza  e o humano e o seu inegável respeito pelos princípios da vida e do bem-estar. Os irmãos Campana, Humberto e Fernando, no Brasil, são o exemplo que primeiro nos surge à cabeça, quando abordamos design inovador, artístico e esclarecido, onde se valoriza o manufaturado e o prazer de quem usa e usufrui de um objeto. À funcionalidade eles acrescentam humor e ao conforto materiais e técnicas amigas do ambiente, produzidas de forma sustentada e por artesãos locais. Antes de serem tocadas pelo consumidor final, as peças foram acariciadas por gente que ama aquilo que faz e dedica horas de entusiasmo e sabedoria ao fabrico de uma peça, por via de processos manuais. Design sensorial é também, por tudo isso, uma forma de nos reconectarmos, com o planeta e com as necessidades do nosso próprio corpo. É também uma busca de conforto, segurança e bem-estar físico e emocional. Metas facilmente alcançáveis por via de matérias orgânicas e vegetais, tons terra e natura, cores de fruta e de árvore, de céu, mar e manga, sons de água ou de aves, padrões da vida selvagem e aromas silvestres e de texturas que rimam com a lã das ovelhas, o toque da estopa e o cheiro do algodão.

O calor e uma cabana

O bem português gabinete de arquitetura Aires Mateus, também ele de dois irmãos – Manuel e Francisco Aires Mateus –, consegue o mesmo na conceção de espaços sensoriais, levando a natureza circundante literalmente para dentro de portas. No inesperado e inspirador projeto Casas na Areia, na Comporta, em que um hotel se disfarça de casa e em que a casa se traveste de praia, elementos autóctones, como as canas, a madeira e a própria areia da praia não são meros elementos decorativos, eles são empregues enquanto elementos estruturais. Dispensam-se, assim, artifícios da engenharia contemporânea e resgata-se a ideia apelativa e inebriante das construções originárias em terra de pescadores, a de uma simples cabana bem integrada nas dunas de que fez chão e na maresia que lhe corre nas veias. Casas assim, simples e em harmonia com o meio circundante, nascem da terra e a ela pertencem sem hostilidades ou vaidades. Não se impondo, antes coexistindo, sem dramas ou necessidades de afirmação. A genialidade do traço simples limita-se ao estritamente necessário – um teto sobre quatro paredes, como desenharia qualquer criança – e emprega os recursos que estão à mão, aqueles que a Natureza oferece aos seus restantes habitantes. Há nobreza nesta arquitetura, da qual resulta uma exuberante experiência sensitiva, que comunga organicamente com a paisagem. Esta, a paisagem, não está apenas lá fora, está também lá dentro. O cheiro da madeira e das fibras vegetais com as quais se revestem paredes e tetos, afugentam o calor e aquecem o coração. A sensação fica próxima daquela de quem simplesmente acampa, pedindo temporariamente de empréstimo um pedaço de paisagem, um bocado de céu, sentindo sob os pés o conforto refrescante da areia que também já lá estava.

Desafio e benefício

Este design desafia conservadorismos e hábitos enraizados no modo urbano de morar e experimentar o quotidiano. Minimiza necessidades e extravagâncias e limita ao estritamente necessário a beleza e a comodidade. Introduz o meio exterior no meio interior, incorpora a vegetação local, obrigando o betão a recortar-se em torno de árvores e a ‘pintar’ de vegetação paredes interiores. Mais consentâneo com o slow living e o seu geminado silent living – ou deveríamos dizer better living –, este design recoloca-nos num lugar que nunca deveríamos ter abandonado, um lugar que nos conecta com o planeta, o nosso planeta, o qual, hoje, sentimos como algo que nos é exterior, que está apenas lá fora, algures, e perante o qual não nos sentimos obrigados a sentir respeito ou prestar reverências. Este estreitar de relações, de aproximação ao nosso lugar ancestral é, também ele, fonte de emoção e permite brincar com a própria conceção de tempo, já que, com os pés na areia, por exemplo, tudo parece abrandar, mesmo os ponteiros no relógio. O design sensorial, recupera memórias e sensações, sem negar a necessidade de progresso, outro elemento fundador do ADN humano e gerador de conforto e segurança. No inverno, por exemplo, a areia do chão desta casa-hotel, é aquecida, por via de uma base de betão que incorpora um sistema de aquecimento. Sim, não vamos deitar a perder o muito que já inventámos. Vamos antes, sabiamente, utilizá-lo sem hostilidades, sem violência ou agressão para com o meio-ambiente. Vamos tornar extraordinário o ordinário.

Coisas que dão vontade de tocar e sentir

Há versões do design sensorial mais experimentais, conceptuais e futuristas, desenhadas para nos provocar, para acionar e estimular os sentidos de forma vívida e artística, por via de instalações, onde iluminação, som, odor e matéria se unem num circo de sensações. Um festim emocional. Todavia, o mais emotivo é o design que se alia aos objetos de todos os dias, que mobila a nossa casa e aconchega o nosso corpo. Há uma vibração muito própria, emotiva e afetiva em objetos de que necessitamos que respeitam tudo isso, não se limitando a ser práticos, a cumprir um propósito e que ainda se recusam a servirem-se de materiais sintéticos e moldes sequenciais que permitem a sua produção em massa por menor preço. Um processo, este último, que no final joga contra a necessidade de acessibilidade, tornando esses artefactos um milhão de vezes mais descartáveis, menos atrativos e, não raras vezes, menos duradouros.

Move-nos a ideia apaixonada de que os nossos candeeiros Light It Be pertencem a esta categoria de coisas. Coisas que apetece tatear e cheirar, como a cera e a linhaça com que fabricamos a velatura final com que ‘vestimos’ a nossa madeira, ou o odor mineral do latão ou o dos têxteis naturais dos seus ‘chapéus’. Materiais nobres e simples, nascidos na terra, como as árvores que lhes dão vida, manuseados com dedicação artesanal.

Inteligência habitacional

Quando uma criação cumpre as necessidades, de forma ergonómica e orgânica, com base em recursos locais, sem desperdício, sem necessidade de poluir o ambiente para que sejam produzidos e ainda acrescenta valor sensorial, conforto e emoção à experiência do seu usufruto, então, além de sensorial, estamos perante design inteligente. Neste caso, inteligência natural, tantas vezes desvalorizada em nome da emergente inteligência artificial, onde emoções e sensações não têm cabimento. Elas, as emoções e as sensações, são exclusivas aos seres sensitivos e isso deve ser acarinhado e preservado com a nossa vida, pois quando as máquinas conseguirem apaixonar-se, podem vir a querer esse exclusivo. Esse seria o fim do nosso mundo. Para já, temos madeira, areia, barro, pedra, minerais, matérias vegetais e mãos que os sabem moldar a quase tudo aquilo de que necessitamos para sermos felizes. Chamemos a isto happy living.

Fotos – Light It Be e Pinterest

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