De entre todas as novidades em decoração que marcam o arranque deste ano e de uma nova década, várias se destacam. As novas cores vão do doce rosa-blush, ou Millennial Pink, como também é designado, aos quentes castanhos, passando pelo elegante e omnipresente cinzento, ao verde-esmeralda e ao azul-cobalto, ou tons de pavão, ou o tão celebrado azul clássico, eleito cor do ano pela Pantone. Deleitam-se prolongadamente ainda numa vasta paleta de sedutores tons de terra, laranjas e terracotas levados ao colo pela grande tendência natura, étnica e orgânica, que se fixa em matérias naturais e orgânicas, às quais não impõe tingimentos – e sobre as quais falamos detalhadamente no artigo ‘Decoração na Década de 20’, sobre as novas tendências da década que agora se inicia. O resultado é um prolongamento de paisagens exóticas, arenosas e intocadas, que tanto levam a caminhos de areia pela praia ou a ondulantes e quentes desertos abrasados pelo sol de paragens a Sul.
A todos estes tons, ao rosa, aos castanhos, ao cinzento, aos tons pavão e terracotas, junta-se um sofisticado atrevimento, que invade todas as divisões da casa, ousando mesmo pintar as paredes de cozinhas e casas de banho: o elegante preto e o seu efeito mágico e contrastante, quando combinado com outras cores ou texturas étnicas ou naturais, por exemplo. Está para os novos ambientes feéricos e urbanos como o vermelho para o burlesco e dificilmente o poderá contornar se pretende dar um look atual e contemporâneo à sua casa. O preto é a vanguarda do momento, a cor que coloca a sua decoração um passo à frente.
Tão neutra quanto o branco, ela confere a sensação de redução das áreas, quando, na verdade, não consome metros quadrados, antes os estimula e enriquece, tornando-os mais permeáveis a contrastes e fazendo com que tudo o resto sobressaia de forma mais histriónica. O preto é o mestre de cerimónias, aquele que chama a atenção para todo os números e atos em cena, sem chamar a atenção sobre si, ainda que omnipresente e não obstante ser sua a voz que tudo anuncia e que confere brilho a tudo o que se segue. Com ele se fabricam moods industriais, requintados ambientes urbanos, rústicos recantos salpicados de madeiras cruas e próximas da Natureza, ou se eleva a outro patamar escritórios ou salas, de menor ou maior dimensão. Com ele se encenam dramas, thrillers, policiais, comédias, romances e até histórias infantis, já que o quarto das crianças não escapa ao soberbo tom de carvão.
Numa única parede ou na totalidade de uma área o preto invade cozinhas e casas de banho, seja no mais clássico contraste entre branco e preto, seja como contraponto a outro dos tons já referidos como grandes apostas da atualidade, ou ainda na versão integral, a mais ousada de todas e, talvez, a mais bem-sucedida, onde preto sobre preto não é de descurar. Sobriedade e um toque masculino são igualmente facilmente conseguidos com os tons ardósia e podem valorizar um escritório ou quarto de dormir. Na decoração de interiores, esta nova aposta surge muitas vezes valorizada com peças, acessórios ou adereços de metal, seja na versão dourada ou prateada, mas com maior destaque para as primeiras, onde o latão e o cobre são chamados a testemunhar a seu favor, seja em respostas mais ou menos clássicas, mais ou menos feéricas. Nenhuma outra cor permite tão dramáticos e ricos contrastes como o preto, o qual tem cabimento mesmo em estâncias rústicas e atmosferas campestres, tropicais ou étnicas, onde se acomoda com naturalidade.
Salas de exterior, terraços e varandas não escapam ao assertivo preto, o qual é um forte contraponto às inúmeras variações de verde de plantas, árvores e flores das zonas ajardinadas ou selvagens a que se cola quando utilizado no exterior. Ao negro se rendem ainda mobiliário, peças de decoração, têxteis, cerâmicas, trens de cozinha… Ele está no meio de nós e veio para ficar. Uma cor que tem tanto de neutro como de absorvente e que tem mil e uma valências na decoração, se nela souber e estiver disposto a apostar. Curiosamente, o preto traz consigo, além de uma assinatura muito pessoa, um aporte de conforto e aconchego, de unicidade e autoestima, de sofisticação e elegância jamais obtido com qualquer outra cor. Perante ele, nenhuma outra cor revela tanto atrevimento, pois nenhuma delas arrisca tanto, de forma tão brusca e frontal. Mais seguro e consensual, o restante espectro cromático, mesmo o elegante cinzento, não coloca tanto em jogo, nem se apresenta tão intimidatório. Arrisque e experimente. O que é que pode correr mal? Nada, na verdade e caso não goste, é muito simples: pinte por cima. Não é o fim do mundo. Em contrapartida, se gostar, se lhe der tempo para se habituar, esse pode ser o início de uma bela amizade, com ou sem ‘Casablanca’.
Fotografias – Light It Be e Pinterest
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