“Queremos dois, iguais”
A Light It Be já tinha deixado a terra dos projetos, para dar os primeiros e decisivos passos no universo da realidade. Já anunciávamos a amigos e conhecidos esta nossa ideia, já um plano, mas ainda muito na base do “Olha, fui eu que fiz!” Avaliávamos ainda reações e perceções de terceiros, para perceber se a nossa paixão não deveria apenas ficar-se cá por casa, dando apenas luz ambiente à nossa privacidade, quando fomos surpreendidos. Um casal, conhecedor desde a primeira hora desta nossa nova aventura – e tão apaixonado pela ideia e os resultados quanto nós – pediu-nos, sem grande hipótese de recusa, dois candeeiros iguais. Uma nova casa de férias, toda concebida e decorada em estilo natura, uma expressa vontade de se rodearem apenas de objetos com uma linguagem estética inscrita num abecedário ecológico que lhes falem ao coração, um espírito com pendor para as artes e a vontade de adquirirem um Light It Be. Correção: dois Light It Be, para as mesas de cabeceira do quarto principal da nova casa. Sentimo-nos orgulhosos e intimidados. Não aceitamos encomendas, pensámos. Como poderemos fazê-lo, quando cada candeeiro resulta, mesmo para nós, numa verdadeira incógnita e surpresa? Cada tronco impõe as suas condições e quando achamos que pode resultar bem na vertical, ele acaba por se impor na horizontal. Quando planeamos certa tipologia ou peças para a sua realização, ele acaba por decidir que terá de levar outras, em nome da durabilidade, da resistência, da sua mera vaidade… A madeira é caprichosa e nós respeitamo-la. Numa Oficina da Luz, como a Light It Be, nunca nos podemos cingir aos esboços e ficar pelos planos inicialmente gizados. Temos de respeitar a corrente e deixarmo-nos ir, sempre que o caminho indica outras direções. Cada tronco, ainda que semelhante, nunca é igual a outro, ainda que saídos do mesmo braço de árvore. Há diferenças de tonalidade, nós, rachas e ramificações únicas, irrepetíveis. Com tanta variante e incógnita, como achar o exato elemento X desta equação de tantos graus? Como ir ao encontro de uma prévia espectativa?
No entanto, estávamos no início, e decidimos arriscar. Não o anunciámos, para não desiludir. Mas decidimos fazê-lo.
De um fizemos gémeos
Elegemos um tronco de porte e volumetria generosas e cuja extensão não apresentava demasiadas assimetrias. Dele fizemos dois, através de um corte a meio, ou mais ou menos a meio, já que um veio e diâmetro inconstante impossibilitavam rigores métricos. Colocámos e acertámos a altura das bases de ferro, medimos os acessórios, cortámo-los com exatidões científicas, aprumámos e nivelámos. Olhámos de longe e de perto, de frente, de trás e de perfil, cada vez mais entusiasmados com o que ia surgindo. Gémeos. Duas aves exóticas de pescoço longo e uma satisfação que disfarçámos. A meio do processo, por via de uma chamada de vídeo, mostrámos o que ia surgindo, ainda não o resultado, acreditando que só poderiam gostar, mas aceitando que poderia distar um oceano daquilo que tinham imaginado. Entre a surpresa de o termos feito e a felicidade de termos superado expectativas, foram sorrindo, rindo e reagindo com entusiasmo. Os novos proprietários, sim, já se sentiam donos dos candeeiros de mesa Twins – assim lhes chamámos, sem grande rasgo de criatividade, é certo – impacientaram-se, então, em saber quando os poderiam ir buscar. O processo estava adiantado, não demorou muito. Mais do que a satisfação, deles e nossa, este foi uma espécie de selo de qualidade e de apreço. Foi também a nossa primeira venda. Um teste. A prova de que a Light It Be já não era só nossa. A sensação foi muito boa. Obrigada Twins, e obrigada a vocês.
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