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Materiais sustentáveis, reciclados e mais éticos

O mundo mudou. O mundo mudou muito. Com ele mudámos nós, as nossas preocupações, as nossas prioridades e até os nossos afetos. Mudámos e mudamos de forma conexa, interdependente e simbiótica, interligados que estamos entre todos e a tudo. De cada vez que os nossos atos afetam o equilíbrio de um ecossistema, alteram a topografia de um lugar, reduzem uma área verde, poluem um rio ou o ar ou, de alguma forma, interferem na balança dos elementos, nas predefinições naturais, tudo muda. Cada gesto conta. Qualquer ação importa. Isso verifica-se tanto em valores de sinal negativo, quando pioramos e maltratamos um pedaço de Natureza, como em mais-valias positivas, sempre que o nosso empenho recai na sua manutenção e melhoria. Cada vez mais perto de esgotarmos bens essenciais à sobrevivência humana e planetária, cabe a cada um pensar de forma ética e responsável, reduzindo consumos e tornando mais racionais os consumos estritamente necessários.

Nesta nova ordem de pensamento, Sustentabilidade, Reciclagem e Ética são três conceitos que se impõem como incontornáveis, em nome da viabilidade da nossa existência e de tudo aquilo que sempre demos como garantido: a Terra onde vivemos. Seja a localidade da nossa morada postal, seja a da casa maior e mais ampla que todos habitamos, o planeta.

Aquilo que muitos entendem ainda como uma mera tendência, é bem mais forte, necessário e urgente do que apenas isso. A preocupação ambiental, com todos os sinais inequívocos que nos chegam diariamente e impelem a arrepiar caminho e a compreender que temos de alterar modos de vida, hábitos de consumo e formas de produzir, assim o determina. Assim o exige. Um alerta que chegou ao limite temporal, que já não admite descansos ou assobios para o ar. Porque cabe a todos repensar a sua área de intervenção e o seu raio de ação, a decoração há muito que começou a deixar o seu inequívoco contributo, servindo-se de matérias naturais abundantes para conceber, desenhar e produzir os novos artefactos, os novos elementos decorativos. O design pegou em metodologias artesanais, começou a manejar matérias vegetais e minerais, a urdir conhecimentos antigos e a criar com o que a Natureza oferece, somando-lhe apenas engenho e bom-gosto, ou, pelo menos, um gosto particular.

Longe de moldes sintéticos, de processos poluentes. Não é ainda tudo, mas é um caminho que se vai alargando a cada nova meada de lã natural tecida manualmente, a cada criação que elege o vime em detrimento do plástico, a cada pedaço de xisto tornado tampo de mesa, a cada tronco de árvore que se transforma em candeeiro, colher, banco ou peça decorativa com pouca ou nenhuma intervenção mecânica, sem consumos irracionais, sem procedimentos poluentes, sem dinâmicas de gasto desnecessário de energia, sem desperdícios evitáveis. Apenas gosto e paixão. Um olhar ancestral que volta a ser valorizado e aprimorado em função da nossa contemporaneidade, mas com a urgência de universalização de todas estas boas práticas que a era industrial desdenhou e nos fez descartar como inferiores, toscas e provincianas. Não percebemos e não quisemos perceber que provincianos éramos nós nessa ilusão de consumos desbragados, nessa sôfrega economia de consumir e deitar fora, nesse bacoco elogio do descartável. Pois hoje sabemos tudo isso, pelo que ignorar não é já uma opção, nem sequer uma possibilidade.

Sustentabilidade

Com a sustentabilidade em mente, revisitaram-se materiais e procedimentos. Matérias naturais cuja transformação não implique tingimentos poluentes, nem recurso a fábricas energeticamente dispendiosas são protagonistas de uma cada vez mais inspiradora fornada de peças. Estas assumem papel criteriosamente funcional e o meramente decorativo cai em desuso. Volta o aprumo do trabalho manual, o pendor artesanal, há muito inaugurado pela dupla Campana, o gosto por tudo o que nasce na oficina e já não na fábrica. Menos peças, mais úteis, mais racionais e mais amigas do ambiente, quer pela sua própria natureza, quer pelos métodos de as transformar em tapetes, mesas, camas, taças, roupa, brinquedos, candeeiros… Se cada nova peça em nada beliscar o ambiente, se nada lhe subtrair, se nada lhe retirar que a própria Natureza não consiga regenerar sem esforço, então estamos a falar de design sustentável, de peças eticamente responsáveis, de minimização de desperdício, ou desperdício zero, de economia circular e de responsabilidade. De fora fica o fast-design, o descartável, o pouco durável.

Desperdiçar é errado e não pensar no rasto de poluição ou destruição que cada nova criação implica não é aceitável. Voltamos ainda a apreciar a unicidade, a originalidade, o tailor-made e a desgostar do design de massas, indistinto, de fraca qualidade e beleza nivelada pela mediocridade. Desejamos qualidade em vez de quantidade e valorizamos agora o slow-design e a sua criatividade, sensibilidade e simplicidade. Queremos objetos que nos contem histórias e finais felizes, e queremos fazer parte desse enredo orgânico e sensitivo. Desejamos união e não rejeição. Sonhamos com conexão e enleio e isso requer matéria viva e não sintética ou sintetizada, independentemente dos avanços da inteligência que se diz artificial, pois esta não pode sonhar e nós é só o que queremos. Isso e objetos que nos façam rir e sorrir. Texturas, rugosidades, aromas silvestres, formas e contextos naturais, com vida por dentro e empatia sensorial por fora.

Percebemos ainda que natural é saudável e nós somos apenas uma ínfima parte da Natureza. Em resultado disso temos vindo a observar ambientes com um look & feel completamente distinto do de décadas anteriores. O apreço recai em materiais ‘verdes’ e orgânicos, cuja recolha, produção e manutenção respeitam a saúde do planeta e os ciclos naturais das estações – nos lugares do planeta onde estas ainda são percetíveis – e da própria vida. Voltámos ao barro e às garrafas de vidro, aos sacos de pano e aos sumos naturais. Percebemos como a pedra é decorativa e a tecelagem nobre. Porque a nossa saúde e a do planeta são uma só.

Reciclagem

Ainda mais sensata, honesta e apetecível é a visão que a reciclagem permite. Segundas oportunidades, reutilizações, reaproveitamentos e novas formas de empregar matérias cujo descarte seria imoral, são abordagens éticas. Um enfoque na reabilitação que, mais uma vez, apenas matérias-primas nobres e naturais permitem com mais sustentabilidade do que o plástico, por exemplo, cujos processos de reciclagem são, por vezes, dispendiosos e nem por isso isentos de poluição. Reciclar, mais ainda numa perspetiva de upcycling, ou seja, de acrescento de valos, e não de mera recuperação de uma funcionalidade, permite olhar para um objeto qualquer como se fosse, em si mesmo, uma matéria-prima e abordá-lo com olhos criativos que permitem inventar algo de totalmente novo. Um mundo de possibilidades em que tudo tem valor, em que tudo pode ser aquilo que é ou ser algo mais, ou mesmo qualquer outra coisa completamente diferente.

Desse lugar especial de onde se olha o mundo como matéria plástica, moldável e adaptável a qualquer desejo funcional ou estético, nascem maravilhas. Um olhar que não tem fim, nem o vê no que quer que seja. Tudo pode sempre ser um outro começo. Uns óculos especiais, de ver ao perto e ao longo, com mais rigor e carinho que gostamos de usar na Light It Be, uma oficina de luz que lança outra luz, metafórica e literalmente, sobre madeiras descartadas, as quais transforma em candeeiros, castiçais e candelabros. Tudo feito à mão, de lixa em riste e goiva e formão a jeito. O que seria lixo transforma-se num pedaço de luz viva, quente, e numa peça utilitária que ainda conta toda uma história de sobrevivência e resiliência. Reciclar é dar ao planeta e a nós próprios uma segunda chance, não apenas de viver melhor, mas simplesmente de viver apenas.

Ética

Produtos, procedimentos, hábitos, conceitos e propósitos éticos são todos aqueles que atentam à boa origem de um produto, à forma conscienciosa e respeitadora da Natureza com que foram produzidos e que valoriza toda a cadeia de transformação. A ética obriga a que cada um de nós, mesmo quando não estamos a ser observados, observemos, nós, todas as boas práticas que garantem a idoneidade dos nossos atos, a correta origem das matérias-primas e que sublinham a necessidade. A necessidade de um objeto, sim. A sua razão de ser, pelo que a sua utilidade importa, tal como a sua durabilidade, para que tenha um tempo de vida longo; a sua qualidade, para que nunca deixe de ser capaz de cumprir o seu propósito; a sua beleza também não é de menos importância, para que nunca deixe de ser apetecível ao olhar e ao tato; a sua ergonomia também entra na equação, para que se ajuste sempre à mão de forma plástica, quase intuitiva, quase uma extensão da mão, do corpo, da emoção e de sensações várias que qualquer material natural transmite. Por fim, a honestidade de uma coisa, de qualquer coisa. A sua natureza simples, a sua resistência ao tempo e aos enfados da moda, que falam da disponibilidade de resistir até ao fim do uso ou ao fim dos tempos.

Ética é ainda a forma como escrutinamos e julgamos tudo aquilo de que nos rodeamos, exigindo mais qualidade, mais durabilidade, mais sinceridade e mais justeza de todos os envolvidos. Demandando materiais cuja obtenção não fira a Natureza, nem lhe roube um pedaço que lhe faça falta para sobreviver saudável, preferindo transformação artesanal, a mais moderada nos gastos da economia ecológica e não permitindo ser enganados na justeza e verdade de tudo isto. Discernimento e olho crítico é fundamental. Mantenhamos os nossos em alerta máximo!

Andamos a mudar e a mudança já é visível. Há muito por fazer, mas já há muitos caminhos a serem desbravados. Estamos num deles

Fotografias – Light It Be e Pinterest

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